As doenças neurodegenerativas são a principal causa de incapacidade e a segunda principal causa de mortes em todo o mundo (Feigin et al., 2020). Ainda, tornaram-se um grande desafio de saúde pública (WHO, citado em Bassetti et al., 2022). Em cada ano, aparecem aproximadamente 10 milhões de novos casos de demência e cerca de 152 milhões de pessoas em todo o mundo viverão com demência até 2050 (WHO, 2019). A demência é uma das principais causas de incapacidade e dependência entre os idosos em todo o mundo, e tem um impacto significativo não só nos indivíduos, mas também nos cuidadores, famílias, comunidades e sociedades (WHO, 2019).

Um fator de risco é algo que aumenta a probabilidade de se desenvolver determinada condição. No entanto, as presenças destes fatores de risco para a demência não ditam o aparecimento e o curso da mesma. Existem fatores de risco não modificáveis para demência que incluem polimorfismos genéticos, idade, sexo, raça/etnia, perda de audição, condições médicas (e.g., diabetes, hipertensão, obesidade, depressão (WHO, 2019)) e história familiar. Ou seja, são fatores de risco sobre os quais não exercemos qualquer tipo de influência. Não obstante, também existem de fatores de risco modificáveis (e.g. isolamento social, inatividade cognitiva, maus hábitos alimentares, sedentarismo, consumo de álcool e tabaco) sobre os quais conseguimos atuar (Livingston et al., 2020; WHO, 2019).

Embora a idade seja o fator de risco não modificável mais forte para o declínio cognitivo, a demência não é uma consequência natural do envelhecimento. Ainda, sensivelmente metade dos casos de demência estão relacionados a fatores de risco modificáveis, o que significa que a prevenção da demência é possível (WHO, 2019).

Como identificar e/ou eliminar os fatores de risco modificáveis para prevenção do desenvolvimento de um quadro demencial?

Estudos sobre comportamentos saudáveis revelam que indivíduos com um quadro demencial e que adotam estes comportamentos podem manter ou até melhorar suas funções cognitivas (Argimon & Stein, 2005; Kelly et al., 2014; Middleton et al., 2011; Salthouse et al., 2002; WHO, citado em Bassetti et al., 2022) e, consequentemente, a sua saúde cerebral (WHO, 2019). No entanto, apenas 12,8% dos idosos seguem estas orientações relativas a um estilo de vida saudável (Beckman et al., 2010).

Existem vários comportamentos que podemos adotar e atividades relativamente fáceis, que não requerem muita supervisão, que podemos fazer diariamente para estimular nosso cérebro O objetivo é exercitar diferentes áreas e funções do cérebro por meio de tarefas simples e acessíveis. Por exemplo, podemos praticar decorar a nossa lista de compras, ou seja, criar a lista mentalmente baseada no que precisamos para as refeições ao longo do dia. Esta atividade ajuda a desenvolver e aprimorar nossa memória. Se necessário, podemos ter uma lista “suplente”, mas é essencial recorrer a esta apenas em casos extremos. (Tua Saúde, 2022).

Manter-se mental e socialmente ativo contribui para o bem-estar pessoal e também pode ajudar a melhorar a probabilidade de atrasar ou evitar o desenvolvimento de demência. Há muitas formas divertidas e menos cansativas de nos mantermos mentalmente ativo, como por exemplo aprender a tocar um instrumento, aprender a pintar, uma nova língua, fazer aulas de meditação e/ou ginástica (Tua Saúde, 2022). A nível social, à medida que a idade avança, as pessoas tendem cada vez mais a isolar-se socialmente, constituindo um fator de risco para depressão, doenças cardiovasculares, doenças neurodegenerativas, entre outros (Kaye & Singer, 2018). No entanto, existem certos fatores sociais que protegem o cérebro deste isolamento social e respetivas consequências emocionais e/ou psicológicas. Por exemplo, procure promover um ambiente social durante as suas atividades e tarefas diárias, como fazer exercício físico com um amigo ou ir almoçar com um amigo. Ainda, procure desenvolver um sentido comunitário, através da realização de voluntariado, por exemplo, pois estimula uma socialização constante e recorrente no seu dia a dia (Kaye & Singer, 2018; Redburn & McNamara, 1998).

A nível da alimentação, um consumo diário de fruta e hortícolas ricos em antioxidantes, a diminuição do consumo de carnes vermelhas, o aumento do consumo semanal de peixes gordos, de leguminosas e cereais e a moderação do consumo de álcool são a melhor estratégia alimentar para a prevenção de quadros demenciais. Ainda, é extremamente importante beber muita água ao longo do dia, já que pessoas com um quadro demencial têm um risco acrescido de desidratação devido à dificuldade que têm em reconhecer que estão com sede, em comunicar ou pelo esquecimento de beber água. Como conselho, tenha sempre uma bebida à mão, deixe a sua água na sua linha de visão e beba diferentes tipos de bebida, tanto quente como frias, ao longo do dia (Lusíadas Saúde, 2008).

Uma boa rotina de sono, também é um fator importante na prevenção de um quadro demencial. O descanso noturno é uma necessidade fundamental e afeta o nosso funcionamento mental e físico. Com a idade surgem maiores dificuldades em obter o descanso adequado, como problemas que aparecem para iniciar e conciliar o sono, maiores despertares noturnos e menor duração do sono. Assim, é importante estabelecer uma rotina fixa de sono, ou seja, definir horários para acordar e adormecer quase sempre à mesma hora. Ainda, criar um ambiente confortável, desligar dos dispositivos eletrónicos pelo menos uma hora antes de dormir e limitar o consumo de cafeína são alguns dos fatores que ajudam esta boa rotina de sono (CHU de São João, 2020).

Além destas alterações na sua rotina diária, também já existem intervenções clínicas que adotam uma abordagem mais ampla para a saúde do cérebro, com foco no diagnóstico e tratamento, mas também na saúde e prevenção do declínio cognitivo patológico (Bassetti et al., 2022). Existem vários estudos que seguem uma abordagem de intervenção multifatorial, em que incluem na intervenção o treino cognitivo tradicional juntamente com, por exemplo, o exercício físico regular, uma dieta saudável, tentativa na redução de fatores de risco vasculares, do stress psicossocial e de episódios depressivos (Ngandu et al., 2015).

Deste modo, é deveras importante informar-se relativamente a como prevenir este declínio cognitivo patológico, seja através do reconhecimento e eliminação dos fatores de risco modificáveis, seja através da procura e/ou ingressão numa intervenção multifatorial que valorize estes aspetos. Como complemento, a Organização Mundial da Saúde, em 2019, publicou as primeiras diretrizes para redução de risco de declínio cognitivo e demência. Neste documento podemos encontrar recomendações suportadas cientificamente para identificar e alterar os fatores de risco modificáveis (WHO, 2019).