Imaginemos que é dia da mãe e a escola convida todas as mães ou cuidadoras dos alunos a participarem numa atividade mãe–filho. O objetivo é que juntos façam um trabalho manual que implica recortar, colar e pintar. Ao longo desta atividade nós podemos escolher seguir o caminho da empatia, compaixão, respeito, diversão ou podemos escolher o caminho do perfecionismo, da exigência e da austeridade. Estamos a falar de uma simples tarefa de trabalho manual, mas que facilmente se pode tornar num caminho de opressão e rigidez.

Pinta devagar ou esse desenho não vai ficar nada bem”, “Já viste que bonito que ficou o trabalho do teu amigo?”, “Não faças isso, corta direito”, “O que estás a fazer? É assim que tens de colar o papel!”, “Estás a sujar a mesa toda, tem mais cuidado”, “Não tens vergonha de pintar dessa maneira com a idade que tens?”, “Esperava um desenho mais criativo. Acho que consegues fazer melhor”…

Relembro que este era um trabalho que visava desenvolver a relação familiar e criar memórias positivas. Será que adotar uma abordagem de cobrança pela perfeição é o caminho a seguir?

Não Diana… mas isto por vezes parece automático.

É verdade! Todas as mães e pais ambicionam que os seus filhos sejam felizes e saudáveis e, por isso, muitos destes comportamentos têm o objetivo de tornar a criança numa melhor versão de si. Mas como podem as crianças crescer saudáveis se sentem que nunca são suficientemente boas?

Paremos para pensar sobre a nossa própria infância e sobre o acolhimento que recebemos em tarefas semelhantes. Gostavam de fazer este tipo de atividades com os vossos pais? Sentiam-se respeitados e amados incondicionalmente? O que acontecia quando cometiam algum deslize ou erro?

Precisamos de estar conscientes do modo como nos sentimos para não agir em piloto automático, ou seja, compreender porque fazemos o que fazemos para poder quebrar um ciclo de padrões repetitivos. Há situações que ativam gatilhos, por exemplo “isto tem de ficar perfeito”. Se este pensamento surgiu então é porque no passado a perfeição era valorizada e reforçada. Mas até que ponto isto é saudável para nós e para os nossos filhos? Associados a estes pensamentos surgem muitas vezes sentimentos de revolta, tristeza, raiva, tensão e reparem, estamos apenas a falar de um trabalho fora do horário escolar com um objetivo lúdico, ninguém vai avaliar o quão original e organizado está o desenho. Esta nossa postura faz com que a criança perca o prazer pela atividade e se sinta frustrada e desvalorizada.

Pensemos numa árvorePara que esta árvore cresça saudável o solo deve conter todos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento. Agora, imaginemos que a relação que temos com os nossos filhos são o solo dessa planta. Se a forma como nos relacionamos com eles envolver segurança, cuidado, amor, respeito, atenção e dedicação, o crescimento saudável está assegurado! No entanto, se estes fatores não estão presentes e não existe uma relação em que as crianças se possam apoiar, as dúvidas e os medos vão ganhar força e tamanho…

Como está a vossa criança interior, pais? Em pequenos havia espaço para o erro? O vosso rendimento ou desempenho definia o amor que recebiam?

Por vezes, a ideia de que “só queremos o melhor para os nossos filhos” faz com que não aceitemos que erramos na parentalidade. Não queremos ser rotulados como “maus pais”, então tudo o que fazemos é em prol da criança e do seu desenvolvimento e bem-estar. Adotamos uma atitude defensiva e não consideramos a possibilidade de estarmos desligados dos nossos filhos ou a negligenciar as suas necessidades. No fundo, não procuramos formas de melhorar a nossa relação com eles.

É muito mais fácil concentramo-nos nos nossos filhos, nos seus comportamentos e nos seus problemas do que analisarmos o modo como eles nos podem afetar e o modo como, por conseguinte, nós os afetamos a eles. Pensar sobre os nossos problemas, ou até mesmo, sobre os nossos traumas de infância é uma tarefa difícil, mas talvez seja preciso resolver os fantasmas do passado que nos assombram para conseguirmos acolher os desafios das nossas crianças e viver uma vida mais leve.

Hoje, nós cobramo-nos e cobramos os nossos filhos da mesma forma que fomos cobrados na nossa infância. Vamos quebrar esse ciclo?

Um dia o teu filho cometerá um erro ou uma má decisão e correrá PARA ti ao invés DE ti. Nesse momento saberás o imenso valor de uma educação pacífica, positiva e respeitosa.” - Knost