A pandemia que vivenciamos obriga-nos a reestruturar a nossa forma de pensar e de agir até nas coisas mais simples do nosso quotidiano…trata-se de uma aprendizagem constante e muitas vezes desgastante. Atividades que outrora eram automatizadas e irrefletidas — como ir às compras ou entrar em casa — passam a ter que ser meticulosamente planeadas.
Escrevo-vos hoje, no Dia Internacional do Enfermeiro, com o objetivo de afirmar o mandato social da minha profissão: CUIDAR e promover a adaptação nesta enorme transição que estamos a vivenciar, por via da capacitação e empoderamento da tomada decisão consciente e responsável.
O retorno à socialização da comunidade — condição fundamental ao bem-estar do ser humano — só poderá acontecer através de mudanças a nível individual: a incorporação de conhecimentos sólidos de controlo de infeção e a alteração de comportamentos!
Hoje, não abordarei formas de contágio da COVID-19, a forma como nos devemos comportar se estivermos infetados, nem dos cuidados gerais a ter na prevenção da infeção de uma forma pormenorizada …continuo a estar totalmente disponível em caso de dúvidas…no entanto, perante tamanha oferta de informação a esse nível, opto por dar algumas dicas práticas para que percamos o medo, para que recuperemos a nossa vida de forma responsável, minimizando o risco de contágio.
Como enfermeira especialista em enfermagem de reabilitação não posso deixar também de partilhar a angústia que sinto face às sequelas irrecuperáveis que as pessoas que necessitam dos cuidados de enfermagem de reabilitação vivenciarão caso não retomem os seus planos de reabilitação rapidamente. Pessoas com alterações da função motora, neurológica ou respiratória, seja por doenças crónicas incapacitantes ou perda da função inerente ao envelhecimento, não devem ser privadas dos cuidados que darão vida aos seus anos! Dos cuidados que farão a diferença perante sua autonomia face às atividades de vida diárias. Para tal, basta que o enfermeiro de reabilitação, na prestação dos seus cuidados, adote medidas preventivas de contágio redobradas e que utilize os equipamentos de proteção individual adequados. A pandemia não pode ser motivo para negligenciar todas as pessoas com outras doenças que não a COVID-19.
Dicas práticas para o desconfinamento:
Tudo se resume a 3 pilares — mãos, proteção da boca/nariz e distância física!
- Higienização das mãos: o segredo está nas mãos! Uma correta e frequente higienização das mãos minimiza o risco de contágio. A utilização de luvas pode ser o nosso maior inimigo — conferindo-nos a falsa sensação de proteção, reduz substancialmente a frequência com que higienizamos as mãos — poderemos estar a tocar em superfícies contaminadas e posteriormente na nossa cara ou em bens pessoais que levaremos para casa! Desta forma, aconselho que tenhamos sempre um pequeno recipiente de desinfetante de mãos no bolso (já que a acessibilidade a água e sabão é inconcebível sempre que tocamos num puxador ou outra superfície) e que façamos uma higienização das mãos, sempre que alguma superfície seja tocada. Outra dica prática pode passar pela utilização de uma caneta para usar o multibanco, chamar o elevador ou premir qualquer botão que precisarmos — a caneta tal como as mãos tem que ser higienizada sempre que for utilizada.
- Utilização de máscara: durante muito tempo será a nossa melhor amiga — pelo menos até termos uma vacina para a COVID-19. A melhor analogia para esta nossa nova melhor amiga é que deve ser encarada como a nossa roupa interior: necessária, pessoal e intransmissível, não deve ser reutilizada sem lavar (no caso nas máscaras com homologação que permitam lavagens) e não deve ser retirada em público. De resto já todos sabemos: antes de a colocar e a retirar é obrigatório higienizar as mãos, a colocação e remoção faz-se pelos elásticos e sem tocar na parte exterior, a zona contaminada da máscara (parte exterior) nunca deve ser manipulada após a sua colocação. Máscaras que não tapem o nariz e não estejam bem ajustadas até ao queixo não estão a desempenhar a sua função. Se eu uso máscara e protejo o próximo, tenho também o direito de ser protegido…portanto reivindiquemos esse direito no nosso quotidiano sensibilizando os que nos rodeiam.
- Distanciamento físico: será inevitável enquanto aguardamos a tão esperada vacina. Só com a conjugação destes 3 pilares é que estamos a reduzir efetivamente o risco de contágio. Poderemos voltar a estar com os nossos pais, avós e familiares pertencentes a grupos de risco, com distanciamento físico conjugado com utilização de máscara. Quem circula pode ser um infetado assintomático! Assim, é muito cedo para que nos voltemos a abraçar e que para que partilhemos momentos de refeição com pessoas com quem não coabitamos, ainda que sejam familiares próximos.
Juntos seremos mais fortes! E apenas juntos conseguiremos ultrapassar este momento de crise. Protejam-se e protejam todos aqueles com quem se cruzam na rua…só assim estarão a proteger os vossos entes queridos mais frágeis.