A Doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum nos idosos, a seguir à Doença de Alzheimer (DA). Sendo uma doença associada ao envelhecimento, a sua prevalência aumenta com a idade, atingindo cerca de 1% da população mundial com idade superior a 65 anos.

A DP foi documentada de forma detalhada, pela primeira vez, em 1817, por James Parkinson, numa monografia intitulada An essay on the Shaking Palsy. Na altura, foi descrita como uma doença eminentemente do movimento — rigidez, tremor de repouso, alterações na marcha e postura inclinada. A DP define-se como uma doença neurodegenerativa, progressiva, caraterizada por tremor, bradicinesia e rigidez, associada a perda neuronal na substância nigra e à existência de inclusões intraneuronais de corpos de Lewy.

Para além dos sintomas motores associados à DP, existem sintomas não-motores que contribuem para a morbilidade desta doença, nomeadamente sintomas autonómicos, cognitivos, comportamentais e emocionais. Nos últimos anos tem aumentado o interesse acerca destas manifestações colaterais da doença e que se constituem aspetos fundamentais para a qualidade de vida dos pacientes. As alterações cognitivas na DP podem variar desde o DCL (Défice Cognitivo Ligeiro) até ao quadro demencial.

Numa fase inicial, as alterações cognitivas são sobretudo ao nível das funções executivas (sobretudo estas), linguagem, memória e capacidade visuoespacial. A prevalência de Demência na Doença de Parkinson é bastante variável de estudo para estudo (de 20–50%).

O trabalho neuropsicológico, da avaliação à intervenção, deve (e tem de) ser adequado conforme a etiologia do quadro neurocognitivo, a extensão da lesão, o comprometimento cognitivo, emocional e funcional e as caraterísticas idiossincráticas do paciente. Na doença de Parkinson, um dos principais desafios prende-se, desde logo, com o diagnóstico. Se, em alguns casos, este deixa poucas margens para dúvidas, outros há em que o diagnóstico diferencial nos levanta várias questões:

A) Doença de Parkinson ou Demência de Corpos de Lewy?
B) Doença de Parkinson, Degenerescência Corticobasal ou Paralisia Supranuclear Progressiva?
C) Doença de Parkinson ou manifestações parkinsónicas decorrentes de farmacologia?

Assim, para além do conhecimento teórico que o neuropsicólogo deve possuir para realizar um adequado diagnóstico diferencial, também é importante salientar que a DP é muitas vezes comórbida com alterações psiquiátricas como a depressão e ansiedade que dificultam a avaliação, podendo ser fatores confundentes dos resultados desta. Além do mais, a avaliação também é, muitas vezes, um entrave ao processo de reabilitação neuropsicológica, uma vez que estes pacientes se mostram, usualmente, desmotivados e pouco envolvidos no processo de estimulação cognitiva. Ademais, as manifestações motoras da DP também colocam, por vezes, entraves à reabilitação cognitiva, uma vez que impossibilitam a prossecução de tarefas que requeiram motricidade fina como a escrita.

Um dos aspetos que também gostaria de salientar como se podendo constituir um desafio para o trabalho neuropsicológico com pacientes diagnosticados com DP é o que gostaria de chamar a “invisibilidade cognitiva”, ou seja, na medida em que as manifestações motoras são usualmente muito pronunciadas, é difícil fazer ver ao doente e aos seus familiares a importância de trabalhar, a par dos aspetos neurológicos/motores, outras vertentes da doença que não devem ser descurados — as manifestações cognitivas, comportamentais, funcionais e emocionais associados à Doença de Parkinson.