A geração milenar trouxe um novo perfil de famosos que, em pouco mais de uma década, fizeram da Internet e das redes sociais o seu próprio império. São figuras que atraem milhões de seguidores com as suas personalidades, estilos, gostos, temas de interesse, críticas, estratégias de marketing e promoção de produtos. São pessoas como a italiana Chiara Ferragni que, desde 2009, com o seu blog de moda The Blonde Salad, já atingiu mais de 110 mil visitas diárias e construiu um império milionário partilhando a sua vida, gostos e interesses.

Para além de Ferragni, quando entramos no mundo das redes sociais, especialmente no Instagram, encontramos um número interminável de personagens: além de influenciadores digitais, vemos um sem fim de reconhecidos músicos e atores que exercem um enorme poder de influência e opinião dentro e fora do mundo digital. São pessoas que simplesmente não têm limites na hora de expor os seus estilos de vida surpreendentemente glamorosos; roupas da última moda que criam tendências; viagens extravagantes a lugares com paisagens paradisíacas; tudo através de fotos com poses e cenários preparados e cuidados milimetricamente.

Na atualidade, ser influencer não é nenhum jogo. Ser influencer é uma grande oportunidade de negócio que pode ser muito lucrativa, mas nem todos podemos ser considerados influenciadores só pelo facto de partilharmos fotografias no Instagram. Isto requer toda uma série de bases estratégicas, como ser especialista em gerar conteúdos que sejam criativos, únicos e relevantes para uma audiência que, além de exigente, também pode ser extremamente crítica e cruel. Os influencers são aquelas pessoas capazes de gerar um elevado nível de magnetismo, o que faz com que outras pessoas desejem imitar ativamente os seus estilos de vida. Este desejo pode ser perigoso, em especial para os adolescentes e adultos jovens, a principal audiência atraída por este fenómeno digital, que nem sempre tem resultados positivos.

O Instagram está cheio de corpos e vidas aparentemente “perfeitos” que levam as pessoas, principalmente os mais jovens, a acreditar que tudo o que veem na internet é real. No que toca à adulteração da realidade, poderão, de facto, ser criadas expectativas irrealistas. No universo das redes sociais, fazer comparações é injusto, já que ao não ter acesso a muitos aspetos das vidas das outras pessoas, as vidas realizadas em contexto digital passam a adquirir um caráter ainda mais injusto. Por isso, é importante saber diferenciar as realidades, já que “a comparação entre uma vida real de altos e baixos com uma vida com filtros, em que os altos predominam e os baixos são editados ou ocultados, pode levar a um sentimento de frustração face à impossibilidade de alcançar expectativas irrealistas e exageradamente elevadas.

Na verdade, todos estes corpos visualmente atrativos e admirados por muitos não são mais do que uma simples realidade alternativa, desenhada exclusivamente para vender e competir no impiedoso universo da internet, onde não existem limites para alcançar resultados.

As redes sociais incitam a uma comparação injusta de vivências, não só por parte dos mais novos, mas também noutras gerações. Em vez de uma estimulação do narcisismo, diria que as redes sociais promoveram um aumento da insegurança e de sentimentos de inferioridade. De facto, o foco na imagem, identidade, falhas e defeitos, assim como uma comparação constante, gera uma autoperceção de inferioridade em relação aos outros, promovendo o autocriticismo e afetando a autoestima dos envolvidos.

Além disso, em alguns casos “as redes sociais podem funcionar como uma forma de evitamento de interações sociais reais”, uma vez que constituem um espaço seguro onde é possível controlar o como queremos ser vistos. Por outro lado, o elevado grau de reflexão que é envolvido na construção das publicações implica que apenas seja mostrado o tão falado melhor lado. Esta forma de fugir ao mundo real poderá contribuir para “o isolamento e para os sentimentos de inferioridade já mencionados”. Esta face das redes sociais é uma realidade que se torna cada vez mais tangível e que, sem darmos conta, representa uma problemática que afeta cada vez mais a saúde mental das pessoas, incluindo os próprios influencers e celebridades.

Atualmente são muitas as pessoas que sofrem de alguma patologia relacionada com a saúde mental. Sabemos que a depressão, a ansiedade, os problemas de autoestima, os transtornos alimentares e os sintomas de ideação suicida são uma realidade tangível que afeta as vidas de um grande número de pessoas, e o papel que as vidas editadas que vemos no Instagram desempenha nos padrões de autoimagem é cada vez maior. Nesses casos é necessário procurar imediatamente acompanhamento a nível médico e/ou psicológico. Por exemplo, se seguimos uma conta que frequentemente desperta sentimentos de desesperança e frustração, então uma estratégia adequada poderá passar por eliminar esta conta do nosso feed. É necessário, também, fomentarmos a consciência de que as publicações são editadas e não representam a realidade. Por fim, estimular o contacto social real é sempre aconselhável.

“A empatia, processo através do qual estamos capazes de sentir o que o outro sente, nomeadamente o sofrimento e a tristeza, requer que essa mesma pessoa esteja colocada à nossa frente, que estejamos conscientes das suas reações emocionais. Ora, sem esta consciência torna-se mais fácil magoar o outro.”

Vivemos num mundo onde nos sentimos aceites numa rede social através dos tão desejados likes. A pressão constante por conseguir a foto perfeita, por vezes, pode converter–se numa odisseia perigosa. E a dificuldade em não conseguir lidar com os elogios, nem com as críticas, pode converter-nos em marionetas vazias, seres humanos sem personalidade, nem capacidade de gestão de emoções. Existe um medo de não pertencer (fear of missing out), o que incita a uma partilha que, em casos em que não existem limites bem definidos, poderá ser desmedida. No entanto, se esta oportunidade for usada de forma equilibrada, os benefícios são evidentes, permitindo a partilha e discussão de conteúdos com os quais nos identificamos.

É importante não esquecer as críticas negativas que podemos receber por parte dos chamados haters e ter noção de que algumas vezes assumimos nós próprios esse papel, conscientemente ou não. São situações onde “a crítica desenfreada, mal intencionada e sem um propósito definido é fácil de fazer a partir do conforto das nossas casas”, lugar que faz com que nos sintamos protegidos contra as repercussões que os nossos atos podem ter. Muitas vezes não existem consequências face a estes comportamentos e, as que existem, não podem nunca assumir os moldes que poderiam assumir num contexto real. Por outro lado, à frente de um ecrã torna-se impossível perceber qual o impacto real que as nossas palavras têm no outro.

A empatia, processo através do qual estamos capazes de sentir o que o outro sente, nomeadamente o sofrimento e a tristeza, requer que essa mesma pessoa esteja colocada à nossa frente, que estejamos conscientes das suas reações emocionais. Ora, sem esta consciência torna-se mais fácil magoar o outro

As pessoas que agem sem reparar nas consequências que pode gerar esse círculo vicioso, onde podemos chegar a sentir que nos afogamos, refugiam-se assim atrás de uma falsa fachada de segurança. Evitando a generalização, certos indivíduos que se refugiam neste tipo de comportamentos revelam alguma falta de confiança e assertividade, pois face a uma incapacidade de expressão no mundo real, a Internet constitui-se numa plataforma em que a expressão de opiniões se torna mais fácil. Não querendo tirar também, como é óbvio, o papel importante da discussão e da crítica – quando construtiva – tanto em contexto real como virtual.

Um uso inteligente e respeitoso das redes sociais representa uma valiosa oportunidade nesta era tecnológica, onde as redes sociais criam a oportunidade de expressão da identidade individual. Se, por um lado, facilitam a manifestação e partilha de emoções, sentimentos, ideais e valores, também criam a necessidade – e por vezes pressão – de afirmação de uma identidade pessoal.

No caso de pessoas da terceira idade, o fenómeno não deixa de ser curioso, já que existem estudos que demonstram que as redes podem chegar a ser uma grande companhia e uma ferramenta de contacto e comunicação que as afasta da solidão e os faz sentir um bocadinho mais jovens. As redes sociais nesta faixa etária constituem uma plataforma que promove a interação social e combate o isolamento – problemática tão frequentemente associada a esta população –, permitindo o contacto, por exemplo, com familiares e amigos, que de outra forma não seria possível. Em casos em que os utilizadores são expostos a atividades de leitura e escrita, pode também funcionar como uma forma de estimulação cognitiva.

De facto, o foco na imagem, identidade, falhas e defeitos, assim como uma comparação constante, gera uma autoperceção de inferioridade em relação aos outros, promovendo o autocriticismo e afetando a autoestima dos envolvidos.

As redes sociais são ferramentas que não compreendem idades, nível cultural ou aquisitivo. Todos nós temos liberdade para usá-las e deveríamos seguir o exemplo das comunidades seniores, quando as usam como uma saída emocional saudável que envolve muitos benefícios.